Hairspray

Hairspray foi primeiro um filme de 1988 escrito e dirigido por John Waters (dono de uma polêmica campanha para que as pessoas pudessem fumar em teatros e cinemas). Nele estão Ricky Lake (Tracy Turnblad), Sonny Bono (Franklin Von Tussle), Debbie Harry (Velma Von Tussle) e Divine (Edna Turnblad). A história acontecem em Baltimore no ano de 1962 e se situa entre as histórias que tratam da segregação de cor e estética. Quanto à primeira, o filme retrata a divisão social bastante marcada entre brancos e negros nos bairros, nas salas de aula, nos programas de TV, bairros... Quanto ao segundo, trata-se da história de uma menina obesa que se apaixona pelo menino mais cobiçado da escola. Além disso, no início dos anos 60, os penteados mantidos à base de aerosol dominam esteticamente a narrativa. O filme teve um sucesso bastante moderado alcançado a quantia de oito milhões de dólares em lucro, vindo a se tornar um filme Cult nos anos 90.

Tracy Turnblad e sua melhor amiga Penny Pingleton (Leslie Ann Powers) vão a uma audição para The Corny Collins Show, o programa adolescente mais visto na TV local, em que jovens dançam embalados por músicas da época sendo patrocinados por Hairspray Ultra Cluntch (baseado no programa real Buddy Deane Show (1957-1964). A abertura do filme mostra os jovens se arrumando para entrar em cena no programa televisivo que era ao vivo. Apesar de estar com o peso acima da balança, Tracy consegue uma vaga no programa o que enfurece a rainha das dançarinas, a adolescente Amber Von Tussle (Colleen Fitzpatrick), filha de Velma e Franklin, donos do parque da cidade (baseado em Gwynn Oak Amusement Park, onde muitos problemas raciais tiveram lugar). Tracy rouba o namorado de Amber, Link Larkin (Michael St. Gerard) e compete contra Amber à coroa de rainha de 1963.

O crescimento da fama de Tracy chama a atenção de Hepty Hideway Clothing Store (Loja de Roupas Tamanho Grande Hepty) que é de propriedade de Mr. Pinky. A loja passa a investir na garota e tê-la como modelo. Tracy passa a usar uma mecha do cabelo loiro o que se torna um sucesso na cidade.

Devido ao penteado, um dia, Tracy é mandada para uma escola reformatória onde ela faz vários amigos negros. Através deles, ela conhece Motormouth Maybelle (Ruth Brown) dona de uma loja de discos (R&B Records) e a apresentadora do programa The Corny Collins Show no “Negro Day”, um dia mensal em que há apenas dançarinos negros e música negra. Maybelle e os jovens ensinam Tracy, Link e Penny a dançar como eles. Penny inicia, então, um romance com Seaweed (Clayton Prince) filho de Motormouth, o que causa horror em Prudence (Jo Ann Havrilla), mãe de Penny, fazendo com que a garota fique presa em seu próprio quarto e a levando para uma lavagem cerebral (John Waters faz o psicanalista) para que passe a gostar de garotos brancos.

Tracy emprega sua fama em lutar pela integração racial e fazer com que os negros tenham mais espaço no programa de TV, o que resulta numa passeata e em confronto policial. Tracy é decretada presa, mas foge. Franklin e Velma, defensores da segregação armam um plano para sabotar a escolha da rainha do programa. Uma bomba é posta no penteado de Velma, mas a bomba explode antes acabando com o penteado da mãe de Amber, em cuja cabeça cai o penteado destruído, o que faz com que Velma seja presa. Tracy ganha a coroa de rainha, mas, por ser aluna de uma escola reformatória não pode sustentar o título. O governo de Maryland, então, a perdoa e ela, finalmente destrona Amber que integra o show entre negros e brancos todos os dias.

Nessa primeira versão, o papel de Edna Turnblad foi interpretado por Divine (Harris Glenn Milstead - 1945-1988), uma dragqueen americana bastante famosa no cinema, na televisão e, principalmente no teatro. Divine morreu dormindo uma semana antes do filme estrear. Na noite anterior a sua morte, após jantar com amigos, seguiu para o hotel onde cantou na sacada “Arrivedercci Roma”. Seu corpo foi achado na manhã seguinte e, seguindo seu pedido, sua pequena fortuna não foi doada para a caridade, mas para todos aqueles que compram flores, gesto que ele/ela admirava. “Ursula, a bruxa do mar”, de “A pequena sereia”, da Disney, é um personagem inspirado em Divine.

O musical Hairspray estreou na Broadway em 15 de agosto de 2002, ganhando treze indicações e oito Tony Award. Ficou em cartaz até janeiro de 2009 e fez 2500 apresentações. As músicas são de Mark Shaiman, as letras de Scott Wittmann (The Adams Family, 1991; Sister Act 1992/1993; Patch Adams, 1998; entre muitos outros) e o roteiro adaptado do filme de Waters é de Mark O’Donnell e Thomas Meehan.

As negociações para o musical começaram em 1998 quando Good Morning Baltimore foi composta e foi escolhida como tema de abertura. Nessa ocasião, Rob Marshall foi escolhido como diretor, mas abandonou o projeto para assumir a versão cinematográfica de Chicago. Quem assinou a direção foi Jack O’Brien (Porgy and Bess, 1977; The piano lesson, 1990; The full monty, 2002) e as coreografias Jerry Mitchell.

A cena de abertura do primeiro ato é com Tracy acordando e cantando "Good Morning Baltimore", cidade onde se passa história, também ambientada em 1962. Depois da escola, ela corre para casa com Penny para assistir ao The Corny Collins Show, sob os reclames de sua mãe, Edna, quanto ao volume da música, e da mãe de Penny, Prudy, quanto ao ritmo. Na TV anunciam um concurso para novas dançarinas e Edna decide concorrer, contra as ordens de sua mãe que teme que riam dela por ela ser “gordinha”. Wilbur, pai de Tracy, permite que ela concorra e, na audição, ela se encontra com Link, o garoto mais cobiçado da escola, dançarino do programa, por quem ela é secretamente apaixonada.

Velma Vom Tussle é a racista produtora do programa e mãe de Amber, a rainha do programa e a namorada de Link. Velma não permite que Tracy faça o teste e a manda embora por causa do seu peso. Também se nega a aceitar o teste de Inez, uma pequena garota negra.

Na escola, devido ao seu penteado, Tracy vai para a sala de detenção onde conhece o garoto negro Seaweed Stubbs, irmão de Inez e filho de Motormouth Maybell, apresentadora do Negro Day do The Corny Collins Show. Ele ensina Tracy a dançar e ela usa o que aprendeu na aula de dança do The Conry Collins Show que acontece em sua escola no dia seguinte. Quando Corny vê Tracy dançando, ele dá a ela um lugar no show. Na gravação, por sugestão de Corny, Link canta para Tracy “It takes two”, o que deixa Amber cheia de ciúmes. Ao saber, Velma promete acabar com Tracy.

Tracy se torna famosa e é convidada para ser “garota propaganda” da loja do Sr. Pinky. É quando tira sua mãe, Edna, de casa após muitos anos de confinamento, envergonhada pelo seu excesso de peso. Tracy passa a usar uma mecha loura no cabelo.
Num jogo de Dodge, Amber derruba Tracy e Link a defende. É quando Penny e Seaweed se conhecem: o garoto negro convida as amigas a irem conhecer a loja de discos da mãe e se divertirem. Lá, Tracy convoca todos para marcharem até a estação de TV em protesto contra o cancelamento do Negro Day daquele mês, que ocorrera em função do dia das mães. No protesto, muita gente é presa. Velma havia ligado para polícia. É quando termina o primeiro ato.

O segunto ato começa com mulheres presas numa cadeia feminina, incluindo Velma e Amber logo libertadas. Wilbur consegue liberar várias outras mulheres, mas não sua filha devido a outra artimanha de Velma. Sozinha, Tracy canta “Good Morning Baltimore”, querendo que Link estivesse com ela. Em casa, Edna e Tracy estão tristes porque todas as suas economias foram gastas nas fianças, mas sua filha ainda está presa. É quando eles lembram do passado.

À noite, Link vai até a prisão e encontra Tracy solitária. Na casa de Penny, Seaweed aparece para tirar a amiga da prisão em que Prudy a colocou por ter sido presa. Os dois casais declaram seu amor e as garotas escapam das respectivas prisões indo se esconder na casa de Motormouth. Todos traçam um plano para tornar The Corny Collins Show um programa integrado. Maybelle lembra da luta dos negros.

Chega o dia da escolha da rainha. Amber luta pelo prêmio. Quando o resultado está para ser anunciado, Tracy aparece unida aos seus amigos Link, Penny, Seaweed e os demais. Tracy é escolhida a Rainha e ela declara que o programa agora será integrado. Então, Mr. Spritzer, o diretor da emissora, aparece dizendo que Tracy foi perdoada pelo governador, que Link ganhara um convite para gravar um disco e Velma ganhou o cargo de vice-presidente da Ultra Glow, empresa que patrocina o programa. Todos celebram. Tracy e Link finalmente se beijam.

O musical recebeu as seguintes indicações ao Tony 2003: Melhor Arranjo, Melhor Ator Coadjuvante (Corey Reynolds - Seaweed), Melhor Cenário, Melhor Iluminação e Melhor Coreografia. E os troféus de Melhor Musical, Melhor Roteiro, Melhor Trilha Sonora, Melhor Ator (Harvey Fierstein - Edna), Melhor Atriz (Marissa Winokur - Tracy), Melhor Ator Coadjuvante (Dick Latessa - Wilbur), Melhor Figurino e Melhor Diretor.

No Brasil, o musical estreou no dia 10 de julho de 2009, no Rio de Janeiro, com o seguinte elenco:
Simone Gutierrez - Tracy
Edson Celulari – Edna
Jonatas Faro - Link Larkin
Arlete Salles – Velma
Daniele Winits – Amber
A direção é de Miguel Fallabella, a produção de Sandro Chaim e o site do espetáculo que ainda está em cartaz (22/07/2010) é esse:


Lançado em 2007, o filme musical foi produzido pela Zadan/Meron Produções carregando a mesma ficha técnica (com exceção do elenco) do musical do teatro.

Com uma estética menos colorida e mais próxima do realismo, a versão cinematográfica tem poucas alterações:

-  Tracy (Nikki Blonsky) conhece Little Inez quando conhece a loja de discos e não na audição;
- O pai de Amber (Brittany Snow) não aparece como também não aparece no teatro;
- Velma (Michelle Pfeiffer) trabalha na produção do The Corny Collins (James Marsden) e não há nenhum parque de diversões;
- Negro Day é cancelado para sempre e não apenas por causa do Dia das Mães. O motivo é baixa audiência. A marcha é em função dessa decisão;
- Não há nenhuma cena na prisão, mas Wilbur (Christopher Walken) usa as economias para liberar quem foi preso;
- Tracy não é presa. Ela foge antes e se esconde na casa de Penny. Por tê-la escondido é que é Penny é castigada pela mãe (Allison Janney). Penny não participa da marcha liderada por Tracy e por Motormouth Maybelle (Queen Latifah);
- Link (Zac Efron) também não participa da marcha porque tem medo de se comprometer e perder o contrato com a emissora de TV. Mas se arrepende e vai até a casa de Tracy após saber do fim da Marcha.
- Edna (John Travolta) e Wilbur lembram do passado quando fazem as pazes após um mal entendido. Velma tentara seduzir Wilbur para separar os pais de Tracy.
- No dia da escolha da Rainha, Tracy, foragida, entra no estúdio dentro de um grande tubo de hairspray cenográfico. Ela dança e convida outras pessoas para dançar, incluindo Little Inez (Taylor Parks), irmã de Seaweed (Elijah Kelley). Inez recebe várias ligações e ganha o concurso de rainha. Velma que roubava votos para sua filha é flagrada pela câmera operada por Edna. Velma é demitida.
- “It takes two” quase não é cantada no filme.

Algumas curiosidades:

- O filme custou 75 milhões de dólares;
- A abertura, um “bird’s eye”, é inspirado em West Side Story e em The Sound of Music.
- As roupas de Penny em algumas cenas são feitas de cortina numa homenagem a The Sound of Music.
- A cena em que Tracy canta “Good Morning Baltimore” é uma homenagem a Funny Girl.
- Os avaliadores do Concurso da Miss Hairspray no The Corny Collins Show são os coreógrafos da versão teatral e a Tracy Turnblad do filme de 1988.
- “Ladies Choice” e “Come so far” foram compostas especialmente para o filme. “The new girl in town foi composta para o musical no teatro, mas não entrou nessa versão. Entrou no filme. “I can wait” (que é linda!)  foi composta e gravada para o filme numa cena em que Tracy está no porão de Penny, mas não entrou na montagem final do filme.
- A “foto cantante” de Tracy em “Without Love” é uma homenagem a Broadway Melody em que Judy Garland canta para foto de Clark Gable;
- Uma sequência chegou a ser pré-produzida, mas, em 2010, foi anunciado de que os planos foram cancelados.

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My Fair Lady

My Fair Lady é um musical baseado em Pygmalion, livro de Bernard Shaw (1856-1950), um importante romancista irlandês, se não o maior daquele país. Lançado em 1913, o romance em cinco atos, se inspirou numa peça musical de W. S. Gilbert, escrita em 1871, chamada Pygmalion e Galatea, um mito bastante famoso na era vitoriana, tratava da história de um professor de fonética, Henry Higgins, que apostava poder enganar a corte vitoriana fazendo uma florista de rua, Eliza Doolittle, se passar por uma dama. O personagem da florista foi uma homenagem, e também uma forma de cortejo, à então famosa atriz Beatrice Stella Turner (1865-1940), depois chamada de Mrs.Patrick Campbell, nome do seu segundo e último marido. Ainda no início da carreira, a atriz era desprezada por mostrar, sem querer, suas origens humildes. Daí saiu o mote de Shaw: uma crítica à sociedade.

A peça veio antes do romance. Shaw leu o texto original para Mrs. Campbell e ela aceitou o papel que havia sido feito para ela, apesar dos seus 49 anos. O espetáculo estreou em Londres em 11 de abril de 1914, mas já havia sido montado em Viena (1913) e em Nova Iorque (1914).

No primeiro ato, é quase meia noite e um grupo de pessoas está fugindo da chuva em Covent Garden, Londres. Entre o grupo está a família Eynsford-Hills, emergentes sociais. Na briga por um taxi, Freddy, o filho dessa família, esbarra em Eliza, a florista, fazendo com que suas flores caiam no chão. Eliza tenta ainda, ao proteger-se da chuva, vender suas flores ao Colonel Pickering, um cavalheiro. Eis que ela é avisada de que há alguém anotando tudo o que ela diz. O homem que anota e o Professor de Fonética Henry Higgins, mas Eliza pensa que ele é um policial e fica bastante nervosa. Pickering e Higgins se reconhecem como grandes estudiosos e admiradores um do trabalho do outro. Pickering viera da India para procurar o autor de vários livros Higgins. Por sua vez, Higgins planejava ir à India encontrar Pickering. Entre a troca de gentilezas, Higgins diz que poderia transformar uma florista em uma dama apenas ensinando-a a falar corretamente. Os dois cavalheiros vão embora, mas as últimas palavras ficam na mente de Eliza. Freddy, que havia saído para encontrar um taxi para sua família, retorna e descobre que sua mãe e irmã já se foram. Eliza pega o taxi de Freddy pagando o transporte com o dinheiro que Higgins lhe dera à título de esmola. Freddy fica sozinho em pensamentos.

No segundo ato, estamos na casa do Professor Higgins e ele está demonstrando seus métodos para Pickering. Mrs. Pearce, a governanta, aparece dizendo que há uma garota querendo falar com o professor. É Eliza. Ela quer pagar por lições, quer ser uma florista numa loja de flores e não uma que vende pelas ruas. Pickering faz uma aposta de que ele não conseguirá ensiná-la a ponto de parecer-se com uma dama. Higgins aceita e ela é levada para um banho. Então, aparece Alfred Doolittle, o pai de Eliza que tenta tirar do professor algum dinheiro. Ele é grosso e até agressivo, não tem uma afeição paternal pela filha e mostra ser um homem acostumado com a falta de possibilidades, mas muito inteligente. O segundo ato termina com o homem indo embora da casa de Higgins com cinco pounds dizendo que os dois professores estão com um difícil trabalho nas mãos.

O terceiro ato acontece na casa da mãe do Professor Higgins. É quando ele diz que está dando aulas a uma vendedora de flores. A mãe está recebendo convidados em sua casa e o Professor é rude com eles como sempre é. Eliza entra e fala sobre o tempo e sobre a família. Embora com um jeito empolado, o assunto dela é trivial: suspeita-se que sua tia, morta por influenza, tenha sido roubada por um parente. Ela diz que gin é o leite que sua mãe e seu pai bebem. Freddy ouve a história e se apaixona por ela e a convida para dar uma caminhada. Ela responde “No bloody likely”, a frase mais famosa da peça, de extremo baixo calão. Depois da partida de Eliza, Mrs Higgins diz estar preocupada com a garota que não é apresentável. Higgins e Pickering, no entanto, estão satisfeitos.

Seis meses se passam e é tempo do Baile da Embaixada. Nele estará Nepommuck, um aluno formal do Prof. Higgins e que fala 32 idiomas. Ela é admirada por todos no baile incluindo pelos anfitriões impressionados com a beleza de Eliza. Nepommuck diz saber quem é ela pela forma como ela fala ao conversar com ele: ela é húngara e tem sangue azul. Higgins é quem diz a todos a verdade. Ninguém acredita nele.

O quarto ano começa na volta da festa, na casa de Higgins, quando o professor recebe os parabéns de Pickering e dos empregados pelo feito. Higgins agradece a Deus por tudo já ter terminado. Eliza ouve calada, sentada, quieta num canto da sala. Todos vão dormir, mas, antes, Higgins pede a Eliza que lembre a Sra Pearce sobre o café que deverá ser levado no quarto dele. Eliza fica sozinha. Minutos depois, o professor volta atrás de seus chinelos e a ex-aluna os atira em Higgins. Ela está chateada e preocupada com o seu futuro. Ele diz que ela poderá fazer o que quiser, incluindo se casar. Ela entende isso como um convite à prostituição já que agora ela não viverá mais do seu sustento, mas de um homem. Ele se irrita. Os dois discutem. Ela quer devolver os presentes que ganhou ao longo do “curso”. Ele vai para o quarto irritado consigo mesmo por ter perdido o controle, jogando o anel que Eliza lhe devolveu na lareira, ato que assusta a própria garota. Ele xinga Eliza, a si próprio, o café e até Mrs. Pearce, de tão furioso que está.

O quinto ano se dá na manhã seguinte à briga. Eliza desaparecera e os dois professores começam a procurá-la, telefonando até para a polícia. Higgins trata o desaparecimento de Eliza como um “guarda-chuva perdido”, mas se distrai pensando que era ela quem dominava suas atenções diárias. Mr. Doolittle reaparece vestindo esplendidamente para o seu próprio casamento. Ele está furioso com Higgins que havia indicado o pai de Eliza como o mais original moralista inglês a um grupo americano de Reforma Moral Social, que, por suas idéias sobre a classe média, deu ao homem uma aposentadoria milionária. Eis, então, que, na casa da Sra. Higgins, o professor encontra sua ex-aluna. A mãe do professor explica como a moça chegara em casa, sentindo-se ultrajada por quem se julga um cavalheiro. O professor pede que o pai de Eliza espere na rua e entra. Eliza entra na sala tranquilamente e segura de si. Não dá ouvidos aos impropérios do ex-professor, mas diz que foi graças aos exemplos dados por Pickering que ela se tornou uma lady de verdade, o que deixa Higgins sem palavras. Ela prossegue dizendo que a velha Eliza havia ficado para trás e que ela não poderia mais voltar a ser o que era. Mas se engana. Nesse momento, seu pai surge dentro da sala e a florista volta a falar como falava no início da história. O pai convida todos para irem ao seu casamento e todos concordam em ir. O professor está exultante.

Na cena final, Eliza e Higgins se confrontam novamente. Ele se defente, ela pede que seja mais gentil. Ele pede mais gratidão. Ela diz que se casará com Freddy e que pensa em se tornar professora de fonética, assistente de Nepommuck. Higgins perde a paciência novamente e diz que torcerá o pescoço de Eliza se ela fizer isso. A mãe de Higgins aparece e as duas vão entram para o casamento. Eliza diz que o professor terá que continuar sozinho e Higgins sorri de si mesmo e da idéia de Eliza se casar com Freddy. A peça de Shaw termina aí.

A peça foi o grande sucesso entre os dramas de Bernard Shaw. No entanto, todos cobravam do escritor um final feliz. Em 1914, o escritor ficou surpreso ao ir ao teatro e ver que a ultima cena era de Higgins com um bouquet de flores para Eliza. Isso deixou Shaw furioso. No anos 20, Shaw explicou que era importantíssimo que tanto Eliza como Higgins mantivessem seu orgulho intacto.

Em 1938, o produtor de cinema Gabriel Pascal se dedicou a versão cinematográfica da peça de Shaw, que havia proibido o cineasta de um filme musical, devido ao fracaso que havia sido “O soldado de chocolate”, musical baseado em “Arms and the man”, peça teatral sua. O filme é bastante próximo da peça. O papel do Higgins foi interpretado por Leslie Howard, que, um ano depois, estrelaria ...E o vento levou no papel de Ashley. Antes dessa versão americana, que ganhou Oscar 1939 de Melhor Roteiro, tendo sido também indicado para melhor ator (Howard), melhor atriz (Wendy Hiller, Eliza) e Melhor filme, houve uma versão holandesa (1937) e uma versão alemã (1935).

Depois da morte de Shaw, Pascal pediu para Alan Jay Lerner que, ao lado de Frederick Loewe, já havia feito cinco musicais, para escrever a versão musical. A dupla, assim que começou a ler o roteiro, se deparou com um texto musical incomum: não havia uma história de amor, assim como não havia, histórias paralelas. Oscar Hammerstein II e Richard Rodgers, outra dupla famosa, também havia tentado a façanha sem sucesso: Pymallion era um caso difícil. Dois anos se passaram e Pascal já havia falecido. Os direitos da peça foram, então, comprados pela dupla de músicos e pela MGM, cujos executivos trataram de desencorajá-los de levar a história para um estúdio. É famosa a frase de Loewe: “Vamos escrever o musical sem os direitos e quando o tempo de decidir quem vai fazer vier, nós estaremos na frente de todo mundo no projeto, de forma que eles vão ser obrigados a nos contratar”. Cinco meses depois, a dupla recebeu o apoio e tudo já estava quase pronto.

Embora Noel Coward tenha sido cogitado para o papel de Higgins o papel foi oferecido a Rex Harrison, que já havia ganhado Tony de Melhor Ator por Anne and the Thousand Years, em 1948. Mary Martin foi cogitada para o papel de Eliza, mas não aceitou. Julie Andrews, que tinha estrelado o musical The Boyfriend, foi convidada para o papel.

Conta-se que, para a estacao de 1955/56 na Broadway, Julie Andrews fez uma audicao para Richard Rodgers para o musical “The pipe dream” . Mr. Rodgers, então, perguntou à jovem cantora/atriz, que tinha alcancado um status à la “Broadway’s darling” por sua interpretacao de Polly na peca “The boyfriend”(vide minha postagem “The boyfriend”), se ela tinha já audicionado também para outros compositores ou produtores. Ela foi muito sincera e disse: “Sim, sim, eu audicionei para Mr. Lerner e Mr. Loewe. Ambos estao preparando um musical baseado em Pygmalion de George Bernard Shaw”. Mr.Rodgers refletiu por alguns segundos e respondeu: “Se eles lhe pedirem para fazer Pygmalion, aceite. Senao, volte aqui e o emprego é seu!”. Como Julie disse anos depois: “It was very good advise – Thank you, Mr. Rodgers”.

O roteiro do musical acabou utilizando cenas da peça, do romance e cenas especialmente escritar por Shaw para o filme de 1938, como a cena do Baile da Embaixada. Os títulos cogitados foram: Pygmallion – Fair Eliza, Come to the Ball e Lady Eliza. O título oficial acabou se tornando My Fair Lady, numa alusão à rima:

London Bridge is falling down,
Falling down, falling down.
London Bridge is falling down,
My fair lady.


Uma das cancoes que foi cortada foi parar em 1958 no filme “Gigi” (Também de Lerner & Loewe) interpretada por Leslie Caron (ou melhor, pela cantora que lhe emprestou a voz): Say a prayer for me tonight... Uma cancao que, em My fair Lady, tinha seu lugar antes de uma insegura Eliza vestir-se para o baile (a cena foi totalmente cortada), foi encaixada na cena em que uma insegura Gigi está para vestir-se para sair com Gaston para o seu primeiro “Rendevouz” no Maxime’s.
 O musical estreou em Nova Iorque em 15 de março de 1956 e ficou em cartaz até 1962 fazendo 2717 apresentações. Moss Hart assinau a direção e Hanya Holm as coreografias. O elenco original também incluiu Stanley Holloway, Robert Coote, Cathleen Nesbitt entre outros. Em Londres, a versão estreou em 1958 e fez 2281 apresentações.

Em 1976, 1981 e 1993, houve remontagens em Nova Iorque. Em 1979 e em 2001 houve remontagens em Londres.

A frase "The rain in Spain stays mainly in the plain" recebeu, ao redor do mundo, diferentes traduções:
Arabic: "سيدتي الجميلة: أنت القلب الكبير..أنت نعمة وإحسان..بنعمتك تختال علينا "
Chinese: "西班牙的雨大多数落在平原上"
Czech: "Déšť dští ve Španělsku zvlášť tam kde je pláň"
Danish: "En snegl på vejen er tegn på regn i Spanien"
Dutch (Version 1 and 3): "Het Spaanse graan heeft de orkaan doorstaan"
Dutch (Version 2): "De franje in Spanje is meestal niet oranje"
Estonian: "Hispaanias on hirmsad vihmahood"
Finnish (Version 1): "Vie fiestaan hienon miekkamiehen tie"
Finnish (Version 2): "En säiden tähden lähde Madridiin"
French: "Le ciel serein d'Espagne est sans embrun"
French (Quebec) : "La plaine madrilène plait à la reine"
German: "Es grünt so grün wenn Spaniens Blüten blühen"
Hebrew: "ברד ירד בדרום ספרד הערב" ("Barad yarad bidrom sfarad haerev")
Hungarian: "Lent délen édes éjen édent remélsz"
Icelandic (Version 1): "Á Spáni hundur lá við lund á grund"
Icelandic (Version 2): "Á Spáni er til að bili þil í byl"
Italian (original performance on stage): "In Spagna s'è bagnata la campagna"
Italian (film version): "La rana in Spagna gracida in campagna"
Italian (later performances on stage): "La pioggia in Spagna bagna la campagna"
Korean: "스페인 평원에 비가 내려요"
Marathi: "Ti Phularaani"
Norwegian (Version 1): "Det gol og mol i solen en spanjol"
Norwegian (Version 2): "De spanske land har altid manglet vand"
Persian: بانوی زیبای من
Polish: "W Hiszpanii mży, gdy dżdżyste przyjdą dni"
Portuguese (Version 1): "O rei de Roma ruma a Madrid"
Portuguese (Version 2): "Atrás do trem as tropas vem trotando"
Russian (Version 1): "На дворе - трава, а на траве - дрова" ("Na dvorye trava, a na travye drova")
Russian (Version 2:) "Карл у Клары украл кораллы" ("Karl ooh Klary ukral korally")
Spanish (Version 1): "La lluvia en Sevilla es una pura maravilla"
Spanish (Version 2): "La lluvia en España los bellos valles baña"
Spanish (Mexican cast) "El rey que hay en Madrid se fue a Aranjuez"
Swedish: "Den spanska räven rev en annan räv"
Swedish (version 2): "Nederbörden och skörden" ("All nederbörd förstörde körsbärsskörden")
Turkish: "Ispanya’da yağmur, her yer çamur"
Ukrainian: "Дощі в Афінах частіше йдуть в долинах" ("Doshchi v Afinah chastishe jdut' v dolynah")

Prêmios:

1956 – Broadway
Tony Award: Melhor Musical, Melhor Ator (Harrison), Melhor Cenário, Melhor Figurino e Melhor Direção Musical e Melhor Diretor. Indicações: Melhor Atriz (Andrews), Melhor Ator Coadjuvante (Holloway) e Melhor Coreografia.

1976 Broadway revival
Tony Award: Melhor Ator ( Ian Richardson e George Rose)

1981 Broadway revival
Tony Award: Melhor Remontagem

A versão cinematográfica mais conhecida é da Warner produzida em 1964 e dirigida por George Cukor, sendo seu 59ª direção. Ocupa hoje a 8ª colocação na lista dos 25 maiores musicais americanos de todos os tempos. Custou 27 milhões de dólares e foi todo gravado em estúdio. Os atores Cary Grant, Noel Coward, Michael Redgrave e George Sanders foram cotados para o papel de Higgins, mas todos se negaram exigindo que Rex Harrison o fizesse. O mesmo aconteceu com o papel de Stanley Holloway. Semelhante movimento da classe artística não aconteceu com a novata Julie Andrews, conhecida no teatro, mas desconhecida no cinema. Eliza foi interpretada por Audrey Hepbun (1 Oscar e 3 indicações), papel esse que foi muito disputado por Elizabeth Taylor.

O filme ganhou oito Oscars: Melhor Direção (Cukor), Melhor Ator (Harrison), Melhor Direção de Fotografia, Melhor Edição de Som, Melhor Trilha Sonoar, Melhor Direção de Arte e Melhor Figurino. E teve as seguintes indicações: Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Montagem, Melhor Ator Coadjuvante (Stanley Holloway) e Melhor Atriz Coadjuvante (Gladys Cooper). A não indicação de Hepburn ainda hoje é considerada uma reação da Academia ao não convite da Warner à Julie Andrews para o papel principal. No mesmo ano, Andrews ganhou o Oscar de Melhor Atriz por sua participação em Mary Poppins. Ao receber o prêmio, disse: “You americans are known for your hospitality, but this is ridiculous!!!"


 Há uma homenagem à My fair lady feita pelo Chapolin  Colorado que não deve deixar de ser vista.

No Brasil, houve duas montagens do musical:

1963 - Teatro João Caetano - Rio de Janeiro. Bibi Ferreira e Paulo Autran nos papéis principais. Marília Pera como corista.

2008 - Teatro Alfa - São Paulo

Sobre essa produção:

“My Fair Lady”, a comédia eternamente jovem e inteligente, sinônimo de alegria, emoção, luxo, felicidade no mundo todo, chega ao Brasil.

Dirigido por Jorge Takla, um dos mais famosos musicais da Broadway, My Fair Lady, encenado ininterruptamente e sempre com enorme sucesso no mundo todo há 50 anos. Baseado na peça Pigmaleão, de George Bernard Shaw, o musical conta a inteligente, dinâmica e hilariante história de um poderoso professor de fonética, machista e solteirão convicto, que garante transformar uma pobre vendedora ambulante de flores em uma grande dama da sociedade. A Takla Produções está à frente dessa superprodução que, ao lado do engenhoso texto, reúne, segundo a crítica internacional, todos os requisitos de melhor dramaturgia, música e maior popularidade de todos os tempos.

Com música de Frederick Loewe, texto e letras de Alan Jay Lerner, My Fair Lady conta com a direção musical do maestro Luis Gustavo Petri , com a regência de Vânia Pajares, e com a direção associada e coreografia de Tânia Nardini. A versão brasileira do musical foi traduzida e adaptada por Cláudio Botelho, responsável pelas versões nacionais das bem-sucedidas montagens de Les Misérables, Vitor ou Vitória, a Bela e a Fera, Chicago, entre outras. O musical tem como protagonistas Daniel Boaventura (Professor Higgins) e Amanda Acosta (Elisa Doolittle), além de Francarlos Reis (Alfred Doolittle), Tadeu Aguiar, Frederico Silveira, Malu Pessin, Noemia Duarte e grande elenco.

Os números endossam a grandiosidade do musical. Os 10 cenários serão assinados por Daniela Thomas e elaborados por uma equipe de mais de 100 pessoas. Os 300 figurinos de época são de Fábio Namatame, localizados no início do século XX, e confeccionados com luxo e requinte. A equipe permanente é composta de 40 artistas, entre atores, cantores e bailarinos; 20 músicos na orquestra; 40 profissionais na equipe técnica (maquinistas, camareiras, cabeleireiros, peruqueiros, maquiadores, operadores de luz, som e contra-regras), e mais de 15 profissionais fixos na produção.




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