domingo, 2 de maio de 2010

A Chorus line

A Chorus Line é um musical sobre dezessete dançarinos da Broadway que participam de uma audição para o coro de um musical. Estreeou na Off-Broadway em maio de 1975. Para tanto, a produção pediu empretado 1,6 milhões de dólares que foi rapidamente coberto com a venda estrondosa de ingressos. Em julho do mesmo ano, o musical estreeou na Broadway, no Schubert Theater, onde fez 6.137 apresentações, sendo, hoje, o quarto espetáculo que mais tempo ficou em cartaz na história da Broadway. Saiu de cartaz em abril de 1990, quinze anos depois. Até essa dada, nenhum musical tinha ficado tanto tempo em cartaz. O lucro foi de 277 milhões de dólares.

O texto é de James Kirkwood e Nicholas Dante. As letras das canções são de Edward Kleban e as composições são de Marvin Hamlisch. A Chorus Line é o trabalho mais importante da carreira de todos esses nomes. O mesmo, no entanto, não se pode dizer de Michel Bennett, que assina a direção. Antes desse musical, Bennet já havia sido premiado por Follies (1971) e Company (1971). Vieram depois, entre outros, Ballroom (1979) e Dreamgirls (1981).

A cena de abertura é com vários dançarinos (gypsies) participando de audições. Zach é o nome do diretor e Larry, seu assistente. No primeiro corte, sobram 17 dançarinos. E só há vaga para 4 homens e 4 mulheres. O diretor, então, diz que quer conhecê-los melhor. Então, eles devem se apresentar. Com relutância, cada um começa a falar sobre o seu passado. Cada história, e nem todas são verdadeiras, dizem um pouco sobre o candidato. Algumas começam na infância, outras já na adultez. Mike conta sobre ver sua irmã dançando ballet quando ele achou que também poderia fazer isso (“I can do that”). Sheila sobre como o ballet a ajudou na sua vida familiar, Bebe que o ballet a fazia bonita, mesmo não sendo ela uma garota bonita, Maggie que, no ballet, sempre havia alguém por ela, sensação que ela não sentia fora da barra.

Kristine e Al, um casal, fala sobre suas dificuldades. Mark, o mais jovem, fala de suas primeiras experiências sexuais vendo fotos de mulheres nuas. Greg sobre como descobriu sua homossexualidade. Diana sobre como eram as aulas de teatro em sua High School. Don lembra de seu trabalho num nightclub, Richie de como se tornou professor de jardim de infância, Judy reflete sobre seus problemas na infância. Connie sobre como é difícil ter baixa estatura. Val conta que talento não é tudo e canta sobre como o silicone a ajudou a conquistar coisas.

Todos descem para o andar de baixo onde aprenderão uma coreografia. Cassie aparece para falar com Zach. Cassie é uma dançarina que já fez muito sucesso como solista. Ela e Zach já foram casados. Zach diz que ela é boa demais para fazer parte do coro, mas ela está precisando de dinheiro e quer fazer o teste.

Zach chama Paul para o palco. Ele, bastante emocionado, conta da importância de passar no teste uma vez que sua única experiência era num show de dragqueens, em que ele era um dos gogoboys. O número final começa: “One”. Zachs chama várias vezes a atenção de Cassie. Ela insiste. Na sequência de sapateado, Paul cai e se machuca. Zachs pergunta a quem fica o que eles farão quando não puderem mais dançar. O que quer que aconteça, eles respondem, eles estarão livres da culpa de não ter dançado. Cassie, Bobby, Diana, Judy, Val, Mike, Mark e Richie são selecionados.

Com roupas douradas, todos retornam e dançam novamente.

A produção ganhou 12 indicações para o Tony Awards em 1976, ano em que também Chicago concorreu. E ganhou nove troféus: Melhor Diretor, Melhor Coreografia, Melhor Atriz (McKechnie), Melhor Ator Coadjuvante (Sammy Williams), Melhor Atriz Coadjuvante (Bishop) e Melhor Iluminação, Melhor Roteiro, Melhor Música Original e Melhor Musical. No mesmo ano, ganhou o Prêmio Pulitzer de Teatro, um feito que pouquíssimos musicais conquistaram (Fiorello!, 1960).

A versão teatral de 2006, atual, custou 8 milhões e fez 759 apresentações. Foi dirigida por Bob Avian. Ganhou duas indicações ao Tony (Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Revival).

A versão cinematográfica, dirigida por Lord Richard Attenborough (Gandhi, 1982) foi lançada em 1985 com grande similaridade com a versão teatral, mas não total. Michael Douglas interpretou Zach. “Hello Twelve, Hello Thirteen, Hello Love”, “Sing!” e “The music and the mirror” foram excluídas da lista de canções. “Surprise, surprise” e “Let me dance for you” foram adicionadas. “What I did for love”, no teatro, expressava o amor dos dançarinos pela dança. No filme, trata-se do relacionamento entre Zach e Cassie.

Kelly Bishop, a original Sheila, conta que ficou horrorizada com ouviu o diretor Richard Attenborough dizer que “A Chorus Line” era sobre jovens que querem uma vaga na Broadway. A versão teatral não é sobre isso, mas, sim, sobre dançarinos que buscam na possibilidades de passar sua última chance de dançar uma vez que estão ficando velhos demais para isso. De fato, a versão teatral é muito mais forte.

A Chorus Line foi o primeiro musical a incluir o tema da homossexualidade, embora no filme, pouco se fale disso.

A coreografia do filme é de Jeffrey Hornaday. Bennett se nego a fazer a coreografia alegando que o filme nunca conseguiria retratar a peça de forma adequada. Sugeriu que a história fosse de atores fazendo casting para o filme, idéia que foi rejeitada.

O filme ganhou três indicações ao Oscar: Melhor Canção (“Surprise, surprise”), Melhor Edição de Som e Melhor Montagem.

A versão brasileira do musical estreou em 1982 e ficou em cartaz até 1984. Cláudia Raia interpretava Sheila. Sobre sua participação, ela conta:

Como foi o seu retorno ao Brasil?
O Teatro El Nacional pegou fogo e foi completamente destruído. Como eu estava de férias do Teatro Colón, vim para o Brasil e vi um anúncio do Chorus line. Eu falei: “Ah, é meu! Tenho que fazer, é meu!” A produção era do Walter Clark, do nosso querido Walter Clark, uma das pessoas mais importantes da televisão brasileira. Fiz a inscrição para a audição. A minha inscrição foi a “0001” entre 1500 candidatas! Eram 7h da manhã e eu já estava na porta, esperando. Eu falei para ele: “Olha, tem dois problemas: um é que eu sou menor de idade e o outro é que eu quero fazer a Sheila de Chorus line.”. Ele adorou aquilo, porque eu praticamente impus o que queria fazer. Ele disse: “Olha, se você é menor, a gente dá um jeito. Mas, para fazer a Sheila de Chorus line, você tem que passar no teste com os americanos que vêm”. E eu falei: “Você pode escrever que o papel é meu. Eu sei que vou fazer!” Fiz o teste: tive nota 10 em jazz e 10 em clássico. Na hora do canto, eu nunca tinha cantado nada na vida. Eles me disseram que conhaque era bom para a voz. Só que eu não bebo nada. Tomei um cálice de conhaque e entrei completamente bêbada! Eu não sabia para onde eu ia, de tão bêbada que fiquei, e não sabia que música eu ia cantar. Eu fiquei tão desorientada que eu cantei Terezinha de Jesus, mas também não me lembrava da letra. Uma loucura! Um mico! Bom, claro que eu não passei no canto. E o diretor musical falou: “Quem é essa moça?” E o americano dizia: “Eu quero ela, porque ela é a Sheila.” Só que o personagem tinha 36 anos, e eu tinha 15. Eu não tinha nem maturidade para fazer aquele personagem. Fui fazer o teste de interpretação – eu tinha visto a peça sete vezes! –, e fazia exatamente igual ao que eu tinha visto a atriz americana fazer. Então, o americano ficou louco comigo. Ele dizia: “É ela, é ela, é ela!” Só que havia uma outra atriz competindo comigo, que tinha sido minha professora de dança, olha que loucura! E ela ganhou o papel. Eu peguei a minha bolsa e fui embora. Imagina! eu era a primeira bailarina do Teatro Colón, não queria ficar na coxia torcendo para alguém quebrar a perna, para eu poder entrar no lugar. Eu disse que não ia ficar. Minha mãe enlouqueceu e disse: “Você tem que ser humilde, não é possível que você queira fazer o primeiro papel logo de cara”. E eu disse: “Eu sei que posso fazer o primeiro papel, eu tenho certeza de que tenho competência para isso.” Fui para o escritório do Walter Clark – eu, a adolescente – e sentei no chão, louca da vida. Então, ele disse: “Olha, você vai entrar como substituta, mas o papel é seu.” E eu falei: “Não, não me venha enganar...” Ele perguntou: “Quanto que você quer ganhar?” “Eu quero ganhar o salário de uma protagonista, que é o papel que eu gostaria de fazer. Será muito infeliz ficar na coxia, não é isso que eu quero.” Dois dias depois – não sei o que aconteceu na negociação entre ele e a outra atriz – eu ganhei o papel principal, que foi a grande alavanca da minha carreira: até fazer esse papel de comédia, que era extremamente engraçado, eu não tinha noção de que eu era uma comediante. Mas era eu abrir a boca e o teatro vinha abaixo, de tanto rir.

Como você fazia para viver essa personagem, que era 18 anos mais velha?
Bom, eu “mechei” o cabelo todo. Fizemos mechas de um loiro bem clarinho, quase branco, para dar um ar de mais velha. Como ela era uma bailarina, e eu também, nós éramos parecidas fisicamente: magrinhas, enfim. Afinal, ela era uma bailarina de 36 anos, mas era uma bailarina! Eu tentei, junto com o americano e com o diretor brasileiro, pesar um pouco na mão: eu não tinha know-how nenhum, experiência nenhuma de atriz. Mas as coisas vinham assim, de dentro de mim, e brotavam. As pessoas que assistiam ficavam enlouquecidas. Eu trabalhei duro mesmo, porque a gente ensaiava das nove da manhã às seis da tarde, loucamente. Eu saía de lá e ia fazer aula de canto, todos os dias. Empenhei-me e, no final, acabei cantando direito as músicas que eu tinha que cantar. As críticas diziam que eu era a melhor cantora. Realmente, não era um elenco tão maravilhoso em termos de canto, mas eu me empenhei em fazer aquilo e consegui cantar direito. Foi uma temporada de um ano e meio, e depois a gente veio para o Rio. O Walter Clark dizia: “Olha, Cláudia, quando você chegar ao Rio, a TV Globo vai te pegar imediatamente.” E eu dizia: “Ah, imagina! Eu não quero TV Globo, eu não quero televisão, eu sou bailarina!” E ele falou: “Você é um dos raros talentos que aparecem e você vai ser uma grande estrela.” Eu pensava: “Meu Deus, o que ele está falando?” Eu não entendia nada. Acabamos ficando super amigos. Ele foi meu tutor, porque a minha mãe morava longe, em Campinas. Ele é que assinava as coisas por mim, porque eu era menor e não podia fazer os trabalhos que apareciam. Então, o Walter Clark foi parte muito importante da minha vida, foi um pai para mim. A nossa relação foi muito bonita, de pai e filha mesmo. Ele tinha uma filha da minha idade, a Luciana, de quem eu era super amiga. E a gente teve essa relação, em conjunto. Ele participou muito da minha carreira, devo muito a ele.

Vocês realizaram outros trabalhos juntos, você e Walter Clark?
Não. Porque ele não fez mais nada em teatro, na verdade. O Chorus line era uma peça muito cara, que apesar de fazer um enorme sucesso, não se pagava – como a maioria dos musicais no Brasil. 


A ficha técnica da produção brasileira do espetáculo foi a seguinte: 

Concepção, Coreografia e Direção Original:
Michael Bennett

Texto:
James Kirkwood
Nicholas Dante

Música:
Marvin Hamlish

Letras:
Edward Kleban

Tradução:
Millôr Fernandes

Direção e Coreografia:
Roy Smith

Remontagem:
Ricardo Bandeira

Direção Musical:
Murilo Alvarenga

Iluminação:
Abel Kopanski

Cenografia:
Mário Monteiro

Assistente de Coreografia:
Nadia Nardini

Direção de Atores:
Alexandre Tenório

Produção:
Walter Clark
José Octavio de Castro Neves

Elenco
Cláudia Raia
Thales Pan Chacon
Totia Meirelles
Regina Restelli
Raul Gazolla
Teca Pereira
Dil Costa
Luiz Carlos Buruca
Kátia Bronstein
Eduardo Martini
Márcia Albuquerque
Nádia Nardini
Rita Renha
Ricardo Bandeira
Roberto Lima
Roberto Lopes
Sylvia Andrade
Alonso Barros
Accacio Gonçalves
Jorge Bueno
Carola Monticelli
Beatriz Becker
Eduardo Malot
Marcos Jardim
Patrícia Martin
Paulo Xavier
Sergio Funari
Viviane Alfano
Zé Arantes

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