quinta-feira, 18 de março de 2010

Victor/Victoria




Victor ou Victoria (1982) é baseado em Viktor und Viktoria, um filme alemão de 1933, que foi dirigido por Reinhold Schünzel, marcando bem a passagem de duas épocas: o fim da República de Weimar para o início do Nazismo, e o cinema mudo para o cinema falado. A semelhança entre o remake de Black Edwards e o de Schünzel é incrível. Vamos, então, ver as mudanças.

Personagens: Os nomes foram substituídos. Victoria Grant (Julie Andrews) substituiu Suzanne Lohr (Renata Müller), Caroll Toddy Todd (Robert Preston) por Viktor Hempel (Hermann Thimig), King Marchand de Chicago (James Garner) por Anton Wallbrook de Londres (Adolf Wohlbrück);

Enredo: Todas as situações do filme de americano se encontram no filme alemão. Na versão de 1933, no entanto, há cenas da transformação de Suzanne em Viktoria. Ela aprende a ser homem: beber como homem, visitar salões de prostituição como homem, barbear-se como homem. O encontro entre os dois, no filme alemão, se dá quando Viktor não pode fazer o seu drag show porque está refriado, como também ela está. Não vi o filme alemão desde o início (não há registros no youtube), então, não sei se há, na versão alemã, a cena da barata.

Rick Thompson faz uma crítica severa à versão de 1982 quanto à musicalidade. Segundo o professor da La Trobe University, a versão original apresenta uma musicalidade que percorre todo o filme e não está apenas na execução das canções. Na versão com Julie Andrews, o musical está apenas no palco, quando a atriz e/ou Preston cantam seus números.

Em 1935, houve uma versão do filme de Schünzel nos Estados Unidos chamada “First a girl”, dirigida por Victor Saville. Elizabeth (Jessie Matthews) sonha em ser cantora mas ela é recusada nos testes em que participa. Num deles, encontra-se com Victor (Sonnie Hale), um ator shakespeareano, também uma vítima das audições. Inesperadamente, Victor ganha o papel de uma mulher num número de um musical, mas infelizmente perde a voz. Elizabeth o substitui com a promessa de tornar-se um homem fora do palco. Ela é notada por McLintock, um influente agente de talentos que a apresenta para Robert (Griffith Jones), um jovem bonito, comprometido com a Princesa Mironoff (Anna Lee). Os dois se apaixonam e, como nas outras versões, Robert descobre que Victória é mesmo uma mulher e não um homem que aparenta ser mulher.

Na versão de 1982, o diretor de Breakfast at Tiffany’s (1961) e A pantera cor de rosa (1963), além de diversos filmes sem sucesso com sua esposa Julie Andrews, Blake Edwards (1922) levou a história para Paris no ano de 1934, retirando a República de Weimar e o início do nazismo da história. O filme começa com Victoria Grant (Julie Andrews) fazendo uma audição, cantando Cherry Line, uma música que Andrews cantava quando tinha 12 anos e já se apresentava publicamente como cantora profissional. Duas informações são importantes nessa cena. Victória se apresenta como uma colatura soprano. Julie Andrews (Mary Poppins e The Sound of Music), de fato, conseguia deslizar por quatro oitavas sem escapar nenhuma nota, chegando a alcançar o dó maior e ir além, base para cantar, por exemplo, a Ária da Rainha da Noite de Mozart, na ópera A Flauta Mágica. A outra informação é que Grant não passa no teste apesar de cantar maravilhosamente bem. O motivo é que saber bem não basta. É preciso “às vezes” saber mal. Julie Andrews não fez o papel de sua vida, Eliza Doolittle, a protagonista de My Fair Lady, que ela fazia no teatro desde a estréia do musical, porque, embora cantasse bem, não tinha sex appeal. Audrey Hepburn, que tinha ganho o melhor cachê da história do cinema por seu papel em Bonequinha de Luxo, filme de Edwards, é quem fez a protagonista de My Fair Lady, sendo dublada em todas os números musicais. My Fair Lady e Mary Poppins concorreram ao Oscar no mesmo ano. Julie Andrews ganhou o Oscar de Melhor Atriz. Hepburn nem mesmo fora indicada.

Victória Grant está sendo despejada de seu quarto em uma pensão quando, sem nem mesmo suas malas, vai a um restaurante pobre munida de uma barata. Lá conhece Toddy, que a assistira no audição. Naquela manhã, Toddy havia sido roubado pelo seu “namorado”, um rapaz bem mais novo que ele. Os dois jantam e provocam uma confusão no restaurante após soltar uma barata viva pelo estabelecimento. É o primeiro “quebra-quebra” de muitos do filme. Sem o que vestir, na manhã seguinte, Grant veste as roupas deixadas pelo namorado de Toddy no apartamento dele. É quando Todd tem a idéia de tranformar Grant em Victor, uma mulher que faz de conta que é homem que faz de conta que é mulher. O show de estréia acontece e Victória é um sucesso, mostrando sempre, a cada show, ao tirar a peruca, que é, de fato, um homem. King Marchand, um gangster de Chicago, assiste ao show ao lado de sua namorada, Norma Cassady (Lesley Ann Warren), e seu guarda-costas, Squash Bernstein (Alex Karras). Marchand fica impressionado com Victória e o fato de ele ser homem o constrange. Os show se sucedem e Marchand fica, cada vez mais, interessado em Victoria. Hospedados todos no mesmo hotel, numa noite, Marchand se esconde no quarto que Victoria divide com Toddy e descobre a farsa. Enquanto isso, o dono do lugar onde Grant fizera a audição, que é também o lugar onde Toddy trabalhava antes de ser demitido, contrata um espião para investigar o motivo do sucesso do concorrente, Chez Lui que agora emprega o/a artista e seu agente. O detetive descobre a farsa também. Marchand e Victoria ficam juntos após ele mandar de volta para Chicago sua ex namorada, Cassady. Indignada, lá, ela conta para os gângsters que seu ex namorado, agora, é gay. Um deles, então, vai para Paris conferir de perto o que está acontecendo. Esse, agora, é o novo namorado de Cassady. O desfecho acontece com a visita da polícia ao camarim de Victória minutos antes dela entrar no palco como Victor. Toddy veste sua roupa e apresenta o número Lady from Seville. Victoria Grant está, nesse momento, ao lado de Marchand, abandonando a carreira de homem e assumindo-se como mulher, o que já tinha feito anteriormente para Cassady e seu novo namorado. Toddy é um sucesso como Victor/Victória.

Ganhou três Oscar: Melhor Canção, Melhor Trilha Sonora e Melhor Roteiro Adaptado. Foi também indicado para: Melhor Ator Coadjuvante (Robert Preston), Melhor Atriz (Julie Andrews), Melhor Atriz Coadjuvante (Lesley Ann Warren), Melhor Direção de Arte e Melhor Figurino.

O musical, que teve músicas de Henri Mancini (autor de Moon River), ganhou uma versão para a Broadway em 1995, um ano após a sua morte. Com coregrafias de Bob Marshall (Chicago e Nine), o espetáculo, fiel à versão cinematográfica, fez 734 apresentações na Broadway, tendo Julie Andrews como a estrela principal. Em 1996, quando foi divulgado que Victor/Victória só havia ganho uma única indicação ao Tony Award, Julie Andrews recusou-se a receber a honra alegando que ela não seria quem é sem a maravilhosa equipe que a acompanhava nesse musical.

Nas férias de 1997, Liza Minelli substituiu Andrews, mas, nesse período, embora alegasse problemas nos joelhos, teve que ser internada por problemas relacionados ao álcool e às drogas. No fim desse ano, Dame Julie Andrews teve um sério problema de cordas vocais. Na cirurgia, houve um erro médico e foi, por isso, proibida de cantar para sempre. Hoje, a atriz continua cantando, aventurando-se apenas em tons baixos.

Em agosto de 2001, houve a estréia da versão brasileira do musical estrelada por Marília Pêra, Léo Jayme (Toddy), Daniel Boaventura (King Marchan) e Drica Moraes (Cassady), direção de Claudio Botelho e produção de Jorge Takla. A produção custou 1 milhão de reais.

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